Existem algumas mazelas que podem lhe arrancar o animo da vida. Uma delas é a diarreia. Mas o que será que isso tem a ver com cultura?
A diarreia nada mais é do que a resposta do corpo a invasão de um microrganismo nocivo a saúde, que pode ser um vírus, uma bactéria, um fungo ou mesmo uma substância abiótica. Há também casos, menos frequentes, em que uma perturbação emocional leva a diarreia. Afinal, quem nunca ficou com o intestino “frouxo” antes de uma apresentação na escola ou entrevista de trabalho?
Uma explicação um pouco mais técnica seria dizer que a diarreia e a evacuação das fezes em estado líquido e de maneira incontrolada, podendo ser aguda ou crônica, dependendo apenas da sua duração. A aguda advém das causas que já citei, e é a mais comum, durante poucos dias. A crônica, dura semanas, e geralmente é causada por alguma mais grave, como intestino irritado, colites ulcerosas, doença de Crohn, etc.
Bem, e adivinhe quem está com essa enfermidade, isso mesmo, o autor que lhe escreve. Ser metafísico do céu, que coisa chata é está com diarreia. O Mal começou no domingo dessa semana, e como estou escrevendo isso na quinta, já fazem cinco dias que estou nessa condição lamentosa de ir ao banheiro a cada cinco minutos, e durante a noite, a cada trinta minutos, uma verdadeira bosta, literalmente.
Cansado de tomar os mais diversos tipos de remédios automedicados e chás que não me ajudaram em nada, acho até que pioram a situação, finalmente fui a procura de um médico hoje. Como a maioria dos homens, eu odeio ir ao hospital, também odeio tomar remédio, mas também odeio ficar doente.
Por sorte, hoje foi um dos poucos dias que havia um médico para atender a população. Peguei minha ficha e esperei, e que cena tipicamente brasileira. Havia umas trocentas pessoas esperando na fila, dos três bancos cumpridos para as pessoas sentarem, um estava ocupado com um único homem, deitado sobre ele de bruços, não vi seu rosto, mas vi a camiseta manchada de sangue sobre suas costas e a terra impregnada nas pernas e braços, preferi nem perguntar o que tinha acontecido com ele e porque ele não estava em uma maca. Os outros bancos estavam ocupados por mulheres, e os poucos homens que havia estavam de pé. Fiz de tamborete o meu capacete e me escorei na parede, a espera ia ser longa.
Pouco depois um conhecido me abordou e pediu meu voto. Ainda não começou oficialmente o período das eleições municipais, mas o sentimento já está no ar, infelizmente. Pensei em perguntar se o candidato iria fazer alguma coisa a respeito do estado lamentável do hospital, mas desistir, primeiro porque não estava com ânimo para nada na vida muito menos discutir política. Segundo, porque talvez, e mais provável, sua resposta fosse mais uma daquelas que sempre ouvimos em todos os períodos de eleição. E terceiro, porque haveria a chance mínima da pessoa falar a verdade, o que provavelmente baixaria mais ainda o meu ânimo.
Enquanto isso, ouvia as pessoas reclamando da demora, alguém dizia que se fosse em São Paulo “a bala ia comer”, uma mulher relatava uma vez em que ela tinha ameaçado a vida de um médico, outra contava o descaso de outro, que fizera um intervalo de três horas, enquanto seu avó passava mal. Uma criança gritava como se estivesse sendo mutilada ou coisa do tipo. Hum ambiente típico de hospital brasileiro.
Milagrosamente, logo fui chamado, não sei bem a razão, já que ficaram para trás muitas pessoas que estavam esperando a horas. Pessoas adoram filas, muitas das pessoas que estavam na espera, tinham chegado pelo horário da manhã, e ainda naquela hora, umas três e pouco da tarde, esperavam ser atendidas. Não sei se o horário de atendimento era só no período da tarde, mas quem já pegou ficha sabe que as pessoas até madrugam no posto para pegar uma ficha que só vai ser liberada ao meio dia.
O médico foi rápido, perguntou os sintomas e psicografou uma receita. Um soro e um medicamento líquido. Enquanto esperava o soro terminar de descer pela veia, era impossível não reparar no estado decadente do hospital, bancos quebrados, azulejos meio amarelados, equipamentos vindos direto do século passado. Estava morrendo de sede, mas achei mais seguro esperar chegar em casa.
Agora, falta apenas tomar o remédio e esperar e torcer para que eu não precise voltar lá nem tão cedo.
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